Tulipas em São Paulo? Uma análise do mercado imobiliário – Blog do Samy Dana

Samy Dana dando uma definição de Bolha já no ano de 2012. Mande para seu “expecialista” ou dono de construtora que continua assimilando “Bolha Imobiliária” com problema de crédito, mas esquece dos surtos de especulação e o aumento excessivo de preços.

A história da humanidade possui diversos relatos de surtos de euforia especulativa, mais conhecidos como “manias especulativas” ou, simplesmente, bolhas.

Possivelmente, um dos mais famosos e charmosos dentre esses relatos é o da mania das tulipas, ocorrida na Holanda na década de 1630 por dois motivos: 1) Apesar da copa de 2010, holandeses são muito simpáticos; 2) Nada mais clichê que flores em um romance.

Nossos queridos historiadores relatam que os bulbos de tulipa foram levados para a Europa na segunda metade do século XVI.

A aceitação das tulipas pelos holandeses foi tal, que em pouco tempo elas se tornaram artigos de luxo e símbolos de status social. Até hoje, há feiras de tulipas e flores na Holanda, sobretudo na peculiar Amsterdão, como diriam os amigos portugueses.

No ano de 1634, após a chegada de forasteiros (e.g. tecelões, sapateiros, padeiros, entre outros) ao mercado de tulipas, que começou a chamada “mania das tulipas”.

Vale notar que, sempre que um produto começa a ter atenção e ser objeto de desejo, existe uma massa de pessoas que deseja entrar no mercado para aproveitar os lucros oferecidos.

Há quem diga que atualmente os forasteiros trabalham no setor de crédito de bancos, são publicitários ou possuem um número no CRECI.

Aparentemente, na Holanda, os forasteiros foram atraídos por relatos contados em Paris e no Norte da França a respeito dos elevados preços dos bulbos.

Hoje em dia, esses relatos são transmitidos em tempo real por redes sociais, veículos de mídia, agências de publicidade e balanço patrimonial de algumas empresas.

Voltando ao fio da meada, a chegada desses forasteiros impulsionou o volume de transações desse mercado e, sobretudo, os preços das tulipas.

Para se ter uma ideia de como pessoas e mercados podem ter manias especulativas, no auge da mania, um bulbo de Semper Augustus (tipo de tulipa mais rara – cuidado com nomes em latim ou francês, são sempre coisas caras) podia custar cerca de 6 mil florins, numa época em que o salário anual médio ficava entre 200 e 400 florins.

Por outras palavras, uma simples tulipa poderia custar o equivalente a 20 anos de trabalho de um trabalhador médio!

No entanto, em 1637, em virtude de um sentimento de pânico generalizado, o mercado de tulipas subitamente quebrou. Não houve uma clara razão para o pânico.

Relatos contam apenas que no maior centro de comércio das flores (a cidade de Haarlem) circulavam boatos de que não haviam mais compradores e, no dia seguinte, de fato não era mais possível vender tulipas a preço nenhum.

A mania das tulipas não é muito diferente de outras manias que existiram ao longo da história.

Na verdade, a maioria das bolhas tem características em comum: surtos que são motivados inicialmente pelo aumento de preços de um setor específico que instigam pessoas de fora a especular; a medida que a mania progride, cai a qualidade das ações que atraem a especulação; boatos alimentam o surto; aumento da alavancagem e, por fim, uma rápida ascensão dos preços seguida por um súbito pânico sem causa que, por sua vez, leva a uma queda abrupta dos preços.

O leitor deve estar se perguntando, e o “Kiko tenho a ver com isso”?

Na verdade, esse aumento de preço repentino observado no mercado imobiliário de diversas capitais, particularmente o paulistano, caracteriza justamente uma bolha pois, como demonstrado no post “Não deixe a bolha imobiliária estourar na sua mão”, os investidores acreditam no retorno pelo aumento infinito do preço e não pelo fluxo de caixa gerado pelo imóvel (no caso o aluguel).

Outra característica observada é que o aumento dos preços de imóveis começou em alguns bairros específicos e gradualmente foi se espalhando por toda a cidade e, com isso, a especulação parou de ser voltada apenas para os imóveis de “bairros nobres” e começou a afetar também os imóveis de bairros mais periféricos.

A lógica ou beleza de vender sempre mais caro pode acabar assim como a beleza cantada na canção “Desafinado” de JObim e Newton Mendonça.

Em termos práticos, a rápida ascensão dos preços já vem ocorrendo há meses, resta agora saber quando aparecerá o pânico que derrubará os preços dos imóveis para patamares realistas.

É difícil precisar quando virá esse sentimento de pânico generalizado, até por que na maioria das bolhas esse pânico não tem uma causa específica.

Em meio de “investidores” que esperam o milagre da Copa do Mundo (que todos brasileiros ficarão mais ricos, mais bonitos e inteligentes) ou que postulam O Evangelho do Preço Infinito, esse sentimento de pânico pode demorar de 2 a 3 anos para se manifestar.

Independentemente de quando vier o pânico generalizado, fica a dica para aqueles que investem em imóveis: não deixe a tulipa murchar na sua mão e no peito dos investidores/compradores também mora um coração.

Fonte: http://blogdosamy.blog.uol.com.br/arch2012-03-16_2012-03-31.html